sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Aquele da perturbação

E pela primeira vez eu desejei sua morte.
Não essa morte daqui, mas essa morte aqui. O aqui de mim.
Fui chorando até em casa. Choro do nunca foi.
Você é sentena de dever não - cumprido..
Agonia.
Teu olhar me fez refém.
Os cinco últimos Carnavais roubaram o meu frescor.
Eu ordeno ao meu coração que não dispare e ele não me obedece.
Eu ordeno que minha boca não seque e ela não me obedece.
Eu ordeno que minha mão fique imóvel e só por um instante, na sua frente ela me obedece.
Mas, você se distrái e ela volta a tremer.
Amor em tempos de cólera é o que me resta ...

R!

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Aquele da imagem refletida no vidro

Ela caminhou em direção a livraria e deu de cara com a porta.
Chegou cedo ao estabelecimento e cedo também, foi sua descoberta.
Com as portas de vidro fechadas da loja, ela observou seu rosto refletido e sorriu, achando graça no arco-íris de cores que pintara sob seu rosto.
Aproximou-se da porta, para se ver ainda mais de perto e pensou ... Se essa imagem, fosse colocada num quadro, como ela seria? E continuou a observar sua imagem refletida no vidro ...
E no cantinho dos seus olhos, linhas retas e vermelhas, que pareciam bigode de gato, despontavam para o lado direito e esquerdo atravessando o seu rosto. Os olhos de esmeralda, brilhavam mais do que o sol, suas maçãs do rosto estavam tão rosadas, que pareciam a própria fruta e os cabelos dourados, dançavam como uma fogueira em chamas.
Foi quando, alguém de dentro da loja acendeu a luz e a imagem colorida sumiu, levando toda sua cor junto.
Ela entrou na loja, pegou e pagou por sua encomenda e foi embora.
A menina ficou sem cor. Logo, chegou em casa e percebeu que seu rosto tornou-se preto e branco. Seus olhos verdes sumiram e aquelas bochechas rosadas também, o cabelo cor de mel transformou-se em negro, assim como os olhos. Sua pele de tão branca, parecia uma vela e sua língua sem cor, agora é uma língua morta.
A cor da menina havia sido roubada pela porta de vidro da livraria.
Assutada, ela voltou correndo ao local, só que já não existiam mais portas de vidro e tão pouco a livraria.
Tudo havia sumido ...
E a menina em preto e branco chorou.
E conseguiu ver novamente sua cor através da poça d'água de lágrimas.
Mas, ela secou.
E a menina desesperada se matou.

R!




sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Aquele da certa idade

E assim, ela escolheu o único hotel do roteiro de 30 dias, mas era aquele da recepção que era um pub, aquele da galera maneira e antenada.
Ele não deu um pio, mas pela cara de reprovação, notou-se logo que ele não estava feliz com isso e antes que ele piscasse, ela soltou: Deixa de ser velho ! Pô, maior maneiro cara, a recepção é um pub, a galera deve ser demais, maior astral.
Ele ainda tentou o argumento, do barato que seria essa viagem de volta no tempo a Europa Medieval e que esse hotel não combinava muito com o lugar.
Mas ela insistiu, quero esse, pode marcar.
Chegaram a recepção-pub as 10 da noite e o recepcionista-barman tentava localizar a reserva do casal, mas devido ao sistema fora do ar, a chave do quarto os foi entregue a 1 da manhã.
O casal exausto, subiu até o andar recomendado, quando ela se vira pro namorado e diz: Acho que tem alguém aí, aliás, alguéns ...
Ela grudou o ouvido na porta, escutou um barulho e disse: O negócio aqui tá quente.
Toc toc toc
Abre a porta uma senhorita descabelada, enquanto uma outra sem se mexer continua deitada na cama.
Oi, ééé, bom, é que esse quarto era nosso.
Oi, desculpa, mas ele é nosso.
Mas esse não é o 8?
É, esse mesmo.
O casal exausto e irritado volta ao pub: Garçon, por favor, fecha a conta.
E seguem para um outro hotel, que dessa vez, digamos, é mais gótico.

R!